Marionetes maias de 2.400 Anos podem ter retratado mortos em rituais sagrados

Arqueólogos descobrem cinco figuras de argila em sítio arqueológico de San Isidro, em El Salvador, que revelaram novos detalhes sobre a cultura maia. Com cerca de 2.400 anos, essas peças, que medem entre 10 e 30 centímetros, deixaram os pesquisadores intrigados com suas cabeças móveis e expressões faciais que mudam conforme o ângulo de observação. Eles acreditam que essas peças eram usadas como marionetes em rituais públicos, possivelmente para representar personagens míticos, governantes ou até mesmo ancestrais falecidos.
Conforme estudo publicado em 05 de março, na revista Antiquity, essas figuras foram encontradas no topo de uma pirâmide em ruínas, datadas de aproximadamente 400 a.C.. Entretanto, evidências sugerem que objetos semelhantes podem ter sido utilizados ao longo de todo o período Pré-Clássico e Clássico maia (2000 a.C. a 900 d.C.). Segundo Jan Szymański, arqueólogo da Universidade de Varsóvia e um dos responsáveis pela descoberta, em entrevista a Science News, as marionetes provavelmente eram vestidas com roupas e perucas para parecerem mais realistas durante as cerimônias.
Esses fantoches variam em tamanho, a maior peça é um homem de 30 centímetros de altura, acompanhado por duas figuras femininas de dimensões semelhantes. Outras duas estatuetas menores, de aproximadamente 18 e 10 centímetros, retratam mulheres com mechas de cabelo na testa. Embora tenham sido encontradas sem vestimentas, os pesquisadores acreditam que eram decoradas com roupas e perucas para os rituais.
Um legado de conexão cultural
O diferencial dessas estatuetas está em suas cabeças móveis e expressões que variam conforme o ângulo de observação. De acordo com Szymański, vistas de frente, as figuras parecem irritadas, enquanto vistas de cima aparentam sorrir e, de baixo, transmitem medo.
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Joyce Marcus, arqueóloga da Universidade de Michigan e especialista em figuras mesoamericanas, que não fez parte do estudo, destaca que a mobilidade das cabeças das marionetes devia criar uma experiência impressionante para os espectadores, possivelmente envolvendo a “ressurreição” simbólica de indivíduos falecidos ou a representação de testemunhas de eventos importantes.
Além de sua possível função ritualística, as estatuetas indicam conexões culturais inesperadas entre San Isidro e outras regiões da Mesoamérica. Acreditava-se que essa área fosse uma fronteira sul da cultura maia, restrita às terras baixas do México, Belize e Guatemala. No entanto, as descobertas sugerem que a região era, na verdade, um ponto de convergência cultural entre o mundo maia e outras civilizações mesoamericanas.
(Por Carina Gonçalves)