Maioria dos europeus tinha pele escura até 3 mil anos atrás, aponta estudo

Maioria dos europeus tinha pele escura até 3 mil anos atrás, aponta estudo
O rosto reconstruído do Homem de Cheddar — Foto: Creative Commons/Flickr

Um estudo recente conduzido por cientistas da Universidade de Ferrara, na Itália, revela um cenário bem distinto do estereótipo comum da “aparência europeia”. Ao examinar o DNA de 348 indivíduos antigos de diversas regiões da Eurásia, os pesquisadores descobriram que, na realidade, a maioria dos europeus possuía pele escura entre 3 mil anos e 1,7 mil anos atrás, na Idade do Ferro. Os resultados foram divulgados em uma pré-impressão no dia 12 de fevereiro.

análise genômica permitiu mapear não só as variações na pigmentação da pele, mas em outras características físicas como cabelos e olhos ao longo dos últimos 45 mil anos. Durante o estudo, os cientistas observaram que características de pele escura eram predominantes durante boa parte período neolítico, abrangendo grande parte da Eurásia. Registros de pele clara foram encontrados apenas nas regiões do norte do continente.

Somente na Idade do Bronze, que começou há cerca de 4 mil anos, os pesquisadores observaram um aumento na prevalência de olhos azuis, cabelo loiro e pele clara, especialmente entre indivíduos originários da Inglaterra, Hungria, Estônia e República Tcheca. Já na Idade do Ferro, posterior à do Bronze, foi registrada uma combinação de tons de pele escura, intermediária e clara em diversas regiões da Europa e da Ásia Ocidental.

Um olhar para o passado

Os primeiros seres humanos modernos apareceram no continente africano há cerca de 200 mil anos, possuindo pele, cabelo e olhos escuros. O surgimento de tons de pele mais claros aconteceu mais tarde, especialmente quando os humanos se deslocaram para as regiões mais frias do norte da Eurásia, onde a luz solar era escassa.

A teoria sugere que, como a pele mais clara absorve mais radiação ultravioleta, essencial para a produção de vitamina D, essas características proporcionaram uma vantagem evolutiva nessas áreas.

Os primeiros registros de características mais claras remontam aos humanos fazendeiros na região da Anatólia, na Turquia. “Sabíamos por dados anteriores que as primeiras ocorrências de peles claras foram por volta de 15 mil anos atrás na região do Cáucaso”, disse Guido Barbujani , autor do estudo, em entrevista ao portal IFLScience. “A mudança para pigmentações mais claras acabou sendo quase linear no tempo e no lugar, e mais lenta do que o esperado, com metade dos indivíduos mostrando cores de pele escuras ou intermediárias bem nas idades do Cobre e do Ferro.”

Já havia indícios de que a predominância de pele escura na Europa poderia ter perdurado por um período mais longo do que se imaginava. Um dos exemplos mais notáveis é o “Homem de Cheddar”, encontrado em 1903 na Gruta de Cheddar, uma formação rochosa no Reino Unido.

O rosto reconstruído do Homem de Cheddar — Foto: Museu de História Natural
O rosto reconstruído do Homem de Cheddar — Foto: Museu de História Natural

Através da extração de DNA de seus restos mortais, os cientistas descobriram que ele viveu há cerca de 10 mil anos, apresentando olhos azuis, cabelo crespo e pele escura. A pesquisa, publicada em 2018, sugeria que a pele clara provavelmente chegou à Inglaterra há cerca de 6 mil anos, com a migração de povos do Oriente Médio.

Embora as peles claras fossem mais adaptadas ao clima europeu, o que explicaria a continuidade das peles mais escuras na região? Para os pesquisadores, a resposta está na dieta. Se uma pessoa, por exemplo, consome muitos peixes, não há tanta necessidade de exposição à luz solar, pois a vitamina D pode ser obtida através da alimentação. Dessa forma, indivíduos de pele escura, com uma dieta apropriada, poderiam viver de maneira saudável, mesmo em climas europeus.

(Por Redação Galileu)

Astrogildo Aécio Nunes

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