A trágica história familiar por trás da invenção do código Morse

A trágica história familiar por trás da invenção do código Morse
No centro da imagem, Samuel Morse, o inventor do código de comunicação que leva seu nome — Foto: Domínio público

código Morse, um dos mais populares sistemas de comunicação, consiste em sequências de pontos e traços que representam letras e números. Originalmente usado em operações militares e na navegação, ele se tornou tão famoso que também marcou presença na cultura pop, frequentemente associado à espionagem ou como um recurso para esconder easter eggs para o público — as famosas mensagens subliminares. Contudo, por trás dessa grande criação, existe uma história familiar um tanto trágica (e pouco conhecida).

Se não fosse tão tarde

Criado em 1835, o código recebeu o nome de seu idealizador, o pintor e físico americano Samuel Morse. Nascido em 27 de abril de 1791, na cidade de Charlestown, Massachusetts, desde a infância ele demonstrava interesse por duas áreas: a arte e a eletricidade. No entanto, ao ingressar na universidade, decidiu seguir sua paixão pela pintura, mudando-se para a Inglaterra, onde construiu uma carreira respeitada como retratista.

Inventor americano Samuel Morse em 1840 — Foto: Domínio público
Inventor americano Samuel Morse em 1840 — Foto: Domínio público

Em 1825, já de volta aos Estados Unidos, Morse se estabeleceu como um renomado artista, o que lhe rendeu um convite especial: pintar um retrato de corpo inteiro do Marquês de La Fayette. O militar francês, considerado herói tanto na guerra de independência dos Estados Unidos quanto na Revolução Francesa, estava fazendo um tour pelo país para comemorar os cinquenta anos do início da guerra. Dessa forma, seu retrato deveria simbolizar a imagem de um herói patriota.

Além de garantir o maior pagamento de sua carreira, a oportunidade de retratar uma das figuras mais ilustres da época fez com que a proposta se tornasse irrecusável. No entanto, o trabalho exigia que ele se deslocasse para a cidade de Washington, muito distante de sua residência em New Haven, onde sua esposa estava prestes a dar à luz ao terceiro filho do casal. Mesmo assim, o pintor decidiu seguir viagem.

No entanto, pouco depois de chegar à capital, após uma longa semana de viagem, um mensageiro lhe entregou um bilhete com uma mensagem curta: “Esposa mal após parto“. Aquelas quatro palavras foram o suficiente para fazer com que Morse retornasse imediatamente para New Haven. Contudo, a demora no trajeto fez com que, ao chegar, sua esposa já tivesse falecido e até mesmo sido velada. Tomado pela frustração, o pintor decidiu dedicar sua vida a criação de uma tecnologia que pudesse evitar que outras famílias enfrentassem a mesma dor que ele viveu.

Comunicação à distância

Retomando seu interesse pela física e eletricidade, entre 1832 e 1837, Morse desenvolveu o telégrafo utilizando apenas fios reaproveitados, pedaços de metal e até mesmo seu relógio de parede. Seu conceito era simples: se a corrente elétrica pode percorrer uma bobina magnética, então também poderia ser usada para transmitir mensagens a longas distâncias.

Telégrafo Morse — Foto: Flickr
Telégrafo Morse — Foto: Flickr

O funcionamento da tecnologia se baseava em um eletroímã, que movia uma estrutura ao receber pulsos elétricos, permitindo a transmissão da informação. No entanto, como ainda não existia uma maneira de converter esses impulsos diretamente em letras e números, era necessário criar um método para interpretá-los.

Foi então que, junto com seu colaborador Alfred Vail, Morse desenvolveu um sistema de codificação no qual cada letra era representada por combinações de sinais curtos e longos. Os sinais curtos, chamados dits, eram simbolizados por pontos, enquanto os sinais longos, conhecidos como dahs, eram representados por traços.

Código Morse Internacional — Foto: Domínio público
Código Morse Internacional — Foto: Domínio público

A partir disso, a telegrafia se tornou tão popular que, em 1851, foi necessário desenvolver o Código Morse Internacional, a fim de permitir a transmissão de mensagens em idiomas além do inglês. O sistema foi amplamente utilizado para enviar mensagens codificadas durante guerras e para a comunicação entre navios e portos, transformando a maneira de se comunicar à distância com a possibilidade transmissões sem fio através do oceano Atlântico.

Uma linguagem universal

Com o surgimento de novas tecnologias, como o telefone e sistemas digitais de transmissão de dados, o código Morse foi gradualmente substituído pelo Sistema Global de Socorro e Segurança Marítima. No entanto, o código ainda é muito utilizado. Um exemplo disso é a sigla SOS, que simboliza pedidos de ajuda, representada no Código Morse por três pontos, três traços e três pontos (… — …).

Samuel Morse faleceu em 1872, após dedicar sua vida ao aprimoramento do telégrafo, em homenagem à memória de sua esposa.

(Por Camilla Almeida)

Astrogildo Aécio Nunes

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