Polarização Lula X Bolsonaro nas eleições de 2024

KLEBER LIMA
A polarização Lula X Bolsonaro vai pesar nas eleições municipais de 2024?
Há várias maneiras de responder a essa pergunta. A primeira é sim, vai pesar. Mas isso impõe outra pergunta: quanto?
A segunda resposta é: depende do local da disputa e também dos candidatos. E isso impõe uma miríade de possibilidades a considerar.
Pessoalmente, acredito que a influência da polarização Lula x Bolsonaro (ou seja, as questões ideológicas) é menor em eleições municipais, cuja pauta que mobiliza mais os eleitores são os problemas sensíveis do dia a dia, como o funcionamento da saúde, educação, segurança, transporte e trânsito, zeladoria urbana, saneamento, etc…
E também não dá para desconsiderar a tradição política e a correlação de forças locais.
Acompanhei com grande interesse as eleições estaduais de 2022 na Bahia, porque ACM Neto liderou praticamente todas as pesquisas do primeiro turno como candidato “nem nem” – era neutro na polarização.
Dada a forte tradição e influência do PT na Bahia, no entanto, ACM acabou sofrendo uma invertida do candidato do PT já no primeiro turno, quando terminou em segundo lugar. Resultado que se repetiu no segundo turno.
O próprio ACM Neto declarou após as eleições que não perdeu para seu adversário direto, o atual governador Jerônimo Rodrigues (PT), mas para Lula.
Não foi bem assim. No primeiro turno, Lula fez 48,4% contra 43,2% de Bolsonaro; enquanto Jerônimo fez 49,4% versus 40,8% de ACM. Já no segundo turno, Lula venceu na Bahia com 50,9% dos votos; enquanto Jerônimo venceu ACM com 52,7%. Logo, ACM não perdeu para Lula, apenas, mas também para Jerônimo, que ficou ligeiramente acima do PT.
Dado interessante é que o candidato do Bolsonaro na Bahia, João Roma, do PL, não cravou sequer 10% dos votos no primeiro turno.
Romeu Zema (Novo) também venceu a eleição no primeiro turno em Minas Gerais sem ser o candidato oficial do PL, mas flertando com o Bolsonarismo – embora PL e PT não apresentaram candidatos competitivos. Já em São Paulo a polarização foi fundamental para a eleição do ‘estrangeiro’ e desconhecido Tarcísio Freitas (PL) sobre o Fernando Hadad nos dois turnos – devido ao desgaste do petista no interior do Estado.
No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) ficou em segundo lugar no primeiro turno, com 26,8%, praticamente empatado com o candidato do PT, Edegar Pretto, que conquistou 26,77% (diferença de apenas 2.441 votos!). E foi justamente o “apoio crítico” do PT no segundo turno que garantiu uma virada espetacular de Leite sobre o candidato bolsonarista Onix Lorenzoni, que havia vencido o primeiro turno com 37,5%.
Trouxe esses três exemplos para mostrar que fatores locais, especialmente a correlação de forças, podem neutralizar a polarização.
Em Mato Grosso, a tendência é o favoritismo dos candidatos bolsonaristas devido a um fato geoeconômico: segundo a maioria das pesquisas conhecidas, o chamado “bolsonarismo” predomina nas cidades cujas economias se baseiam no agronegócio. Isso explica as cenas grotescas como a conturbada filiação ao PL do prefeito Roberto Dorner, de Sinop; e a briga dos deputados federais com o vereador Damiani, de Sorriso; bem como a ida do deputado Claudio Ferreira para o PL de Rondonópolis: todos casos em que os manequins não combinam com os modelitos escolhidos.
Esse fenômeno já não se registra – ao menos na mesma proporção e intensidade – nas grandes cidades onde o agro não é tão predominante ou com tradição de esquerda. São os casos de Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres e mais algumas.
Essas, no entanto, vão ficar para o próximo artigo.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing eleitoral. E-mail: hiperkleber@gmail.com. Instagram: @kleber2018
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias AeF News