O gestor sedentário
LUIZ HENRIQUE LIMA
Atualmente não é segredo que o sedentarismo acarreta grande mal para a saúde e o bem-estar das pessoas. Dez entre dez profissionais de saúde, das mais diversas especialidades, recomendam a seus pacientes que desenvolvam o hábito de praticar atividades físicas regularmente, nem que seja uma simples caminhada algumas vezes por semana.
Evitar o sedentarismo traz significativas melhorias para o sistema cardiorrespiratório, reduz o excesso de peso, previne o diabetes, mantém sob controle a hipertensão, entre outros benefícios físicos imediatos.
Benefícios semelhantes podem ocorrer na gestão de organizações, tanto públicas como privadas.
De fato, quando dirigidas por administradores sedentários, muitas delas sofrem efeitos adversos na sua saúde organizacional. Não me refiro à conduta pessoal dos gestores, mas a um estilo de liderança ultrapassado, que mistura soberba, apatia, enclausuramento e cegueira ética. Denomino esse combo de gestão sedentária e estéril. Seu destino é o fracasso.
“A soberba é a característica dos gestores autossuficientes, dos que pretendem saber tudo e mais que quaisquer outros colaboradores e, ainda, daqueles que não estão dispostos a aprender coisas novas”
A soberba é a característica dos gestores autossuficientes, dos que pretendem saber tudo e mais que quaisquer outros colaboradores e, ainda, daqueles que não estão dispostos a aprender coisas novas, a questionar paradigmas e a ouvir críticas e sugestões.
A apatia se revela na incapacidade de reagir ou de se antecipar às cada vez mais velozes transformações nos cenários tecnológico, geopolítico e econômico-financeiro que impactam profundamente a governança das organizações.
O enclausuramento é a marca, tanto da autoridade pública como do CEO privado, que se encerra numa gaiola dourada. Nunca está presente no chão-de-fábrica, nas filiais, nos pontos de atendimento ao público, na linha de frente operacional, enfim. Não conhece o nome dos funcionários, não conversa pessoalmente com os clientes, não sente a temperatura do terreno, vive o mundo real. Na sua poltrona de grife no seu gabinete refinado, deleita-se na leitura de relatórios tão bem diagramados quanto fantasiosos na descrição de resultados.
E a cegueira ética é a prática, mais frequente do que se supõe, de desviar o olhar diante de múltiplas transgressões, maiores ou menores, comprometedoras da integridade. Exigir o cumprimento de regras éticas sempre gera desconforto em ambientes contaminados por uma cultura tolerante com o assédio moral e sexual, o desrespeito ao consumidor, a sonegação de tributos, o pagamento ou a exigência de propinas etc. Para não ter que agir, ainda que cosmeticamente, o sedentário finge não ver, não ouvir e não saber.
O gestor sedentário atrai uma chusma de bajuladores, incompetentes, inaptos e ineptos. Esse séquito o conduz festivamente ao abismo, mas não o acompanha na queda, a que assistem impávidos e empoleirados em torno de novos senhores.
Porém a conta maior quem paga é a coletividade, seja pela inefetividade das políticas públicas, seja pela perda de empregos, produtividade e competitividade no setor privado
Assim, é tempo de combater o sedentarismo na gestão organizacional.
Luiz Henrique Lima é Conselheiro independente certificado e professor
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