Nossa Senhora Aparecida e Oxum
GILDA PORTELLA
Oxum: “É a divindade do amor, ela estimula nos seres os sentimentos de fraternidade, amor e união, por isso Oxum é considerada a Mãe do Amor, da concepção, da afetividade, do carinho e da comunhão.
Mãe Oxum rainha do ijexá é por ela que flui o amor de pai Olorum. Além de orixá do amor e da concepção, ela agrega e dá início ás coisas da vida dos seres.
É a rainha da pureza, é beleza, riqueza e prosperidade. É dela tudo que floresce, no material, no amor, a sorte da vida, o crescimento das famílias, ela rege a gestação e as crianças até os sete anos.
Associada à riqueza do ouro, metal precioso para todas as civilizações na terra, devido ás suas características de brilho, maleabilidade e raridade, Oxum, orixá do amor, da beleza, da fertilidade, que unida ao orixá Oxumaré, formam a segunda linha da umbanda, o trono do amor”[1].
O texto apresenta uma narrativa sobre Oxum, um dos orixás mais reverenciados na Umbanda e no Candomblé, destacando seu papel como a divindade do amor, da fertilidade, das prosperidades, das águas doces e cachoeiras. O relato de Maria Gorete e de Tharles Figueiredo, mostram a energia de mamãe Oxum transformando vidas, proporcionando acolhimento, equilíbrio e reconexão com suas forças espirituais.
A vibração de Oxum é associada ao ouro, à beleza e à gestação, simbolizando pureza e renovação da vida. Os rituais em sua homenagem, como a oferta de velas, flores e frutas nas cachoeiras, são manifestações de gratidão e reconexão com sua essência e energia maternal.
Maria Gorete, benzedeira, negra, mãe de santo de Umbanda, é filha de Oxumaré, em Rondonópolis (MT), trabalha no auxílio espiritual do Terreiro Fundação Pai João, coordenado pelo sacerdote de Umbanda Edson Caetano.
Atualmente, Mãe Maria Gorete dedica parte de sua vida ao trabalho espiritual, tanto em sua casa no bairro Iguaçu, onde mantém um aconchegante “quarto de oração” dedicado à Preta Velha Vó Cambina e ao Caboclo Pena Branca, diariamente realiza benzimentos e passes espirituais, quanto no Terreiro Pai João. Nas datas comemorativas, longo do ano, visita rios e cachoeiras para oferecer melões com mel, rosas amarelas ou batatas doces com mel a Oxum e Oxumaré, em ritual de agradecimento ás bênçãos, milagres e proteções recebidas por ela e todos seus filhos.
Tharles Figueiredo, pai de santo de Umbanda, coroado pela Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, fundada pela mãe de Santo Yolanda Leal é historiador e mestrando no pós-graduação em estudos de cultura contemporânea na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sempre que pode atravessa os 220 quilômetros que separam Cuiabá de Rondonópolis para atender às necessidades profissionais e espirituais. Aproveita as horas de estrada, fazendo da poltrona do ônibus, sua sala de leitura.
Durante um café da manhã, Pai Tharles pergunta a Mãe Maria sobre a importância de Oxum em sua vida. Ele foi surpreendido com o testemunho que ela compartilhou: “[…] Oxum para mim é tudo, meu filho. Olha, como te falei, desde o início, Oxum é o meu alicerce, de onde tive força para levantar […]”.
Recordando, que Oxum a auxiliou em um momento crítico, quando grave acidente vascular cerebral (AVC) a deixou acamada e sem movimentos.
Com muita fé, Mãe Maria pediu a Orixá Oxum para que pudesse voltar a andar até o dia de Nossa Senhora Aparecida (sincretizada como Oxum em algumas casas de Umbanda). No dia da celebração 12 de outubro de 2000, com a ajuda de amigos, ela conseguiu se levantar e caminhar até o altar para agradecer o milagre.
Para Pai Tharles rememorar o seu percurso passando pela fase da rebeldia dos neófitos, o momento da revelação através do sonho, o ritual (entrega de rosas na cachoeira a Oxum) simbolizando a reconciliação consigo mesmo e aceitação da sua Orixá de frente, hoje já mais sensível e maduro, sente-se feliz, pleno e realizado com sua mãe Oxum: “Falar sobre Oxum pode ser algo complexo para mim, principalmente ao tentar definir em poucas palavras.
Ela é meu orixá de frente, desde que entrei no terreiro em 2014, com 14 anos de idade. Lembro-me de questionar minha mãe de santo: “Não quero ser filho de Oxum, quero um orixá guerreiro”. Essas palavras revelavam minha imaturidade e falta de conhecimento na época. Pouco sabia eu da honra de ser filho de Oxum.
No dia do meu batismo em 2015, uma semana antes da cerimônia que seria dedicada a Xangô, sonhei com uma linda cachoeira cheia de sangue e rosas vermelhas boiando.
Assustado, procurei minha mãe de santo. Ela me ouviu com calma, retirou-se por um momento e retornou dizendo que a cerimônia deveria ser dedicada a Oxum e não especificamente a Xangô, que seria meu segundo orixá. Após conversarmos marcamos de ir a um rio próximo a uma cachoeira e oferecemos rosas amarelas e muitas pétalas a Oxum, pedindo perdão pelo “quase’’ equívoco. Minha madrinha de santo e outro irmão de fé nos acompanharam.
Alguns dias antes do batismo, passei pelo ritual de amaci em minha coroa e, no sábado, a cerimônia em homenagem a Mamãe Oxum aconteceu. A partir daquele momento, tornou-se meu maior orgulho ser seu filho.
A trajetória de Pai Tharles de Oxum mostra que os iniciantes se equilibram emocional e espiritualmente, harmonizando a vida ao aceitarem seus projetos reencarnatórios, sua missão de vida, seguindo irmanados aos Orixás trilhando o caminho com passos mais seguros: “Oxum me acolheu em todos os momentos de minha vida, especialmente nos mais difíceis. Ela me fez enxergar minhas qualidades, confiar em minhas escolhas e me protegeu de diversos ataques espirituais. Em momentos de incerteza, uma simples vela amarela e um copo d’água eram suficientes para me conectar com sua força.”
Oxum, a senhora das águas doces, inspira devoção e gratidão profunda naqueles que reconhecem sua presença em suas vidas. Tanto Maria Gorete quanto Tharles Figueiredo exemplificam a força transformadora dessa orixá, que cuida, acolhe e guia com serenidade, amor e sabedoria. Sua energia está nas águas dos rios, nas cachoeiras, na doçura do mel e no brilho dos lírios e rosas amarelas, símbolos de sua graça infinita e força. Ela ensina a importância de confiar, agradecer e amar, trazendo equilíbrio e proteção em todas as jornadas.
Elementos segundo o livro Rituais da Umbanda: velas e símbolos[2]
·Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição;
·Fator: agregador;
·Vela: dourada, rosa e amarelo e azul claro;
·Flores: lírios, rosa amarela e cor de rosa;
·Frutas: cereja, maçã, pera, melancia, figo, pêssego, goiaba vermelha, melão;
· Bebida: champanhe;
·Pedra: ametista, quartzo rosa e rubi;
· Dia da semana e data comemorativa: sábado, 08 de dezembro
·Saudação: “Ai – ie – iô”! ou “Ora ieie ô”!
· Chacra: umbilical:
·Ponto de força: cachoeiras, rios (água doce);
·Símbolos: coração e cachoeiras;
· Polaridade: Oxumaré;
· Irradiação: Amor
· Atributo: amor, doação, equilíbrio emocional, concórdia, complacência, fertilidade.
Os depoimentos de Mãe Maria e Pai Tharles dizem da força espiritual de Oxum guiando suas trajetórias pessoais. Para Mãe Maria, Oxum foi a força que lhe permitiu superar os desafios físicos, psicoemocionais após um AVC, tornando-se um símbolo de fé e resiliência. Já para Tharles, a aceitação de Oxum como sua ‘mãe de frente’ representa um marco de autodescoberta, maturidade e reconexão com sua missão espiritual.
Sua saudação “Ora ieie ô” expressa respeito e gratidão à gentileza, que orienta seus filhos com doçura e determinação. O texto evidencia o poder transformador de Oxum, cuja energia une o material ao transcendental, promovendo harmonia e amor em todos os aspectos.
Gilda Portella é sacerdotisa de umbanda, multiartista e mestranda PPGECCO/UFMT.
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