“Mini-lua temporária” que orbitou a Terra em 2024 na verdade é pedaço da nossa Lua
Quem lê a GALILEU talvez se lembre da desta notícia de setembro de 2024, sobre uma “mini-lua” que ficou “presa” na órbita Terra durante algumas semanas. Pois bem, durante a sua estadia na órbita, pesquisadores da Nasa aproveitaram a oportunidade para conduzir alguns xperimentos no objeto. Isso revelou que o asteroide 2024 PT5 é um fragmento da nossa Lua, que provavelmente se soltou milhares de anos atrás.
Conforme descrevem em um artigo da revista científica Astrophysical Journal Letters, publicado em 14 de janeiro, os especialistas chegaram a tal conclusão após verificarem, por meio de imagens de telescópios, que o corpo celeste era rico em silicato. Esses minerais não costumam compor asteroides, mas podem ser encontrados aos montes em amostras de rochas lunares.
Investigando o 2024 PT5
O asteroide 2024 PT5 foi detectado em uma trajetória com destino à Terra pela primeira vez em 7 de agosto de 2024, pelo telescópio Sutherland, da África do Sul. Com cerca de 10 metros de largura, ele não representava qualquer perigo de impacto, mas calculou-se que ele orbitaria o nosso planeta por aproximadamente dois meses, entre setembro e novembro.
Dito e feito. Logo que a “mini-lua” se instalou próxima à Terra, uma equipe de investigadores liderada por Theodore Kareta, já utilizou imagens do Telescópio Lowell Discovery e do Observatório Mauna Kea para demonstrar que o espectro da luz solar refletida da superfície do pequeno objeto não correspondia ao de nenhum outro asteroide conhecido. Em vez disso, o padrão de luz refletida era muito mais semelhante àquele de rochas da Lua, ricas em silicato.
Uma segunda pista veio da observação de como o objeto se movia pelo espaço. Enquanto um objeto feito por seres humanos, como um propulsor de foguete oco à deriva no espaço, se moverá como uma lata vazia no vento, um objeto natural, como um asteroide, será muito menos afetado pela pressão da radiação solar, a qual pode empurrar um objeto, acelerando ou diminuindo a sua velocidade.
Para descartar a ideia de que 2024 PT5 fosse lixo espacial, os cientistas calcularam com precisão o movimento do objeto sob a força da gravidade, o que lhes permitiu entender qual seria a tendência adicional causado pela pressão da radiação solar. Na comparação da expectativa e realidade, os efeitos foram considerados muito pequenos para que o objeto fosse artificial, provando a origem natural de 2024 PT5.
“Suspeitávamos que esse asteroide poderia ter vindo da Lua, mas os testes foram essenciais para descartarmos outras possibilidades”, explica Kareta, em comunicado. “Parece que ele não está no espaço há muito tempo, talvez apenas alguns milhares de anos ou mais”.
Implicações da descoberta
Com o novo estudo sobre 2024 PT5, acaba de dobrar o número de asteroides conhecidos que se acredita serem originado da Lua. O outro, 469219 Kamo’oalewa, foi encontrado em 2016 com uma órbita semelhante à da Terra ao redor do Sol. Tal comportamento indicou que ele também poderia ter sido ejetado da superfície lunar após um grande impacto.
À medida que os telescópios se tornam mais sensíveis a asteroides menores, espera-se que mais potenciais pedregulhos lunares serão descobertos. Isso cria uma oportunidade emocionante não apenas para cientistas que estudam uma rara população de asteroides, mas também para aqueles que estudam a Lua.
De acordo com a equipe, se um asteroide lunar puder ser diretamente ligado a uma cratera de impacto específica na Lua, estudá-lo pode fornecer insights sobre processos de craterização. Além disso, o material de muito abaixo da superfície lunar, que forma esses asteroides, poderia se tornar mais acessível para futuros cientistas analisarem.
“Esta é uma história sobre a Lua contada por cientistas de asteroides”, conclui Kareta. “É uma situação rara em que saímos para estudar um asteroide, mas então nos desviamos para um novo território em termos das perguntas que podemos fazer sobre 2024 PT5”.
(Por Arthur Almeida)