Humanos antigos se reproduziram com denisovanos em diferentes momentos, diz estudo
Cientistas acreditam que os denisovanos (Homo denisovensis), um pequeno grupo de hominídeos cuja existência foi descoberta por volta de 2010, chegaram a cruzar com os Homo sapiens algumas vezes no passado. Com isso, especula-se que eles podem ter transmitido alguns de seus genes para os seres humanos modernos. Os resultados encontrados foram descritos em um artigo publicado na última terça-feira (5) na revista Nature Genetics.
“É um equívoco comum que os humanos evoluíram de forma repentina e ordenada, a partir de um ancestral comum”, explica Linda Ongaro, pesquisadora do Trinity College Dublin, na Irlanda, que liderou o mais novo estudo sobre as populações humanas antigas, em comunicado. “Quanto mais aprendemos, mais percebemos que o cruzamento com diferentes hominídeos ocorreu e ajudou a moldar as pessoas que somos hoje”.
Quem foram os denisovanos?
Os denisovanos foram escritos por volta do início da década de 2010, após a descoberta de um osso de dedo escavado na caverna Denisova, nas montanhas Altai, na Sibéria. Percebeu-se que esse fragmento era de um grupo humanos nunca antes identificado, com características que permitiam classificá-lo como outra espécie. “Foi uma das descobertas mais emocionantes na evolução humana na última década”, afirma Ongaro.
Diferentemente dos restos mortais de neandertais (Homo neanderthalensis), encontrados aos montes na região, o registro fóssil dos denisovanos consistia apenas daquele osso do dedo, um maxilar, dentes e fragmentos de crânio. Mas, ao longo dos anos, com o avanço dos estudos comparativos da espécie com o genoma dos humanos modernos, os cientistas foram descobrindo mais informações sobre esse grupo e a forma como ele interagia com os demais hominídeos.
O achado mais recente diz respeito à identificação de evidências de pelo menos três eventos pelos quais genes de populações distintas de Denisova podem ter deixado marcas genéticas nos humanos modernos. Cada um deles apresenta diferentes níveis de parentesco com os restos de denisovados sequenciados geneticamente, o que indica uma relação complexa entre linhagens irmãs.
Novos insights
No artigo, Ongaro e a pesquisadora Emilia Huerta-Sanchez descrevem evidências que sugerem que as populações de desisovanos provavelmente viviam amplamente distribuídos da Sibéria ao sudeste asiático, bem como da Oceania à América do Sul. Seus fósseis demonstram que eles estavam adaptados a ambos os ambientes, os quais são bastante distintos entre si.
Elas ainda descrevem uma série de genes de origem denisovana que deram aos humanos modernos vantagens em seus diferentes ambientes, como um locus genético que confere tolerância à hipóxia, ou condições de baixo oxigênio. Populações tibetanas e do ártico, por exemplo, que ocupam regiões outrora foram habitats dos hominídeos antigos, apresentam múltiplos genes que as conferem imunidade elevada e ferramentas metabólicas lipídicas que fornecem calor quando estimuladas pelo frio.
“Há inúmeras direções futuras para pesquisa que nos ajudarão a contar uma história mais completa de como os denisovanos impactaram os humanos modernos, incluindo análises genéticas mais detalhadas em populações pouco estudadas, o que poderia revelar traços atualmente ocultos da ancestralidade denisovana”, sugere Ongaro. “Além disso, integrar mais dados genéticos com informações arqueológicas – se pudermos encontrar mais fósseis – certamente preencheria mais algumas lacunas”.
(Arthur Almeida)