Fim de programa de checagem da Meta vai agravar violência contra as mulheres nas redes sociais

Fim de programa de checagem da Meta vai agravar violência contra as mulheres nas redes sociais
Reprodução/HNT

VANESSA MARQUES

Há anos o ambiente digital tornou-se um espaço de proliferação crescente de discursos discriminatórios, de ódio e intolerância. Diante da decisão da empresa Meta de alterar o modelo de checagem de informações, o futuro que se desenha não é nada animador. A falta de regulamentação rigorosa e de monitoramento eficaz dos conteúdos publicados poderá contribuir para agravar um cenário já caótico e extremamente preocupante.

Segundo Mark Zuckerberg, CEO da Meta, as verificações serão substituídas por “notas da comunidade”. Com isso, Facebook, Instagram e Threads, redes sociais pertencentes à empresa, passarão a controlar e monitorar menos os conteúdos que circulam nas plataformas. Supõe-se que essa mudança tenha como objetivo a manutenção dos lucros bilionários, o alinhamento ideológico e político com o novo mandatário americano, Donald Trump, e, principalmente, a resistência à onda europeia de regulamentação das redes sociais.

Associada, ao que tudo indica, ao bilionário Elon Musk, proprietário da plataforma X, a Meta pretende reduzir o controle sobre o conteúdo, alinhando-se ao discurso da liberdade de expressão adotado pela direita conservadora. Esse movimento é justificado, num discurso bastante alinhado entre os três atores, como uma luta por mais liberdade para os usuários das plataformas digitais.

Liberdade de expressão é um direito constitucional que deve ser protegido por todos, mas esse direito não autoriza a prática de crimes. Em nome dessa “liberdade”, as redes sociais podem se tornar espaços ainda mais propensos à disseminação de fake news, desinformação e discurso de ódio.

O cenário que se desenha afetará, de forma significativa, nós, mulheres, sob diversas perspectivas. Os conteúdos polêmicos já tendem a se espalhar com maior rapidez devido ao modo como os algoritmos estão sendo utilizados; imagine isso sem uma moderação eficiente. A tendência é o aumento da misoginia, do machismo, do preconceito de gênero e da violência de todo tipo, disso não há dúvida.

Em um país onde os casos de feminicídio crescem assustadoramente, a violência política se agrava e os movimentos digitais misóginos se multiplicam, a falta de regulação das redes e de um processo sério e eficaz de checagem de publicações indica que a violência e a discriminação contra as mulheres irão se intensificar. Nossas meninas, vítimas constantes de pornografia e pedofilia, se tornarão ainda mais vulneráveis na internet.

De acordo com a SaferNet, entre 2020 e 2021, o número de denúncias de violência contra as mulheres na internet cresceu 1.600%. E quantos outros casos não foram denunciados? Em 2023, o governo federal informou que foram identificadas 100 contas com conteúdos misóginos e machistas, que somam mais de oito milhões de seguidores. Além disso, as redes sociais são hoje responsáveis por agravar o discurso discriminatório contra mulheres negras e aumentar a ansiedade, especialmente na geração Z.

Para combater os inúmeros crimes que se multiplicam nas redes, é fundamental que exista um sistema eficaz de detecção e monitoramento das postagens. O Brasil precisará decidir se adota uma legislação rigorosa para combater esses crimes ou se permitirá que as grandes empresas de tecnologia sigam seu caminho sem restrições, observando de longe o crescimento da violência de gênero.

(*) VANESSA MARQUES é Jornalista com mais de 20 anos de atuação em comunicação. É mestre em Indústrias Culturais e Comunicação pela Universidade Politécnica de Valência, cursa o seu segundo mestrado no IDP em comunicação digital e integra o Grupo de Pesquisa na UNB.

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Astrogildo Aécio Nunes

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