Descoberto navio que serviu de “castelo flutuante” para rei Hans, da Dinamarca

Descoberto navio que serviu de “castelo flutuante” para rei Hans, da Dinamarca
Brendan Foley e um colega escavam os destroços do Gribshunden em 2022. O navio-almirante real dinamarquês afundou na costa da Suécia há mais de 500 anos — Foto: Divulgação/Brett Seymour

A 9,1 metros abaixo do Mar Báltico, pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, encontraram restos do que parece ser “Gribshunden”, a embarcação pessoal do Rei Hans, que governou a Dinamarca e a Noruega entre os anos de 1455 e 1513.

De acordo com os registros históricos, o navio afundou por volta de 1495, quando o monarca viajava para uma cúpula na qual ele esperava unificar toda a região nórdica sob sua coroa.

Em comunicado, Brendan Foley, arqueólogo responsável por conduzir os mergulhos, afirma que a descoberta surpreendeu logo nas primeiras escavações. “Estava limpando a lama de uma caneca de madeira presa sob um emaranhado de lenha quando a caneca simplesmente começou a se mover sozinha, se libertando do sedimento e subindo rapidamente em direção à superfície”, lembra ele.

Quando o profissional voltou a agarrar o objeto, ele verificou que havia bolhas de gás em seu interior – resquícios da decomposição de cerveja ou hidromel de quase 500 anos. Esse foi o primeiro indício de que o naufrágio poderia estar ligado a algum membro da realeza ou, pelo menos, a uma família rica, que tinha acesso a produtos raros como esses no século 15.

Importância de Gribshunden

Foley passou boa parte de sua carreira desenterrando itens submersos nos oceanos. Em seus mergulhos em naufrágios, ele já descobriu moedas, joias e até um braço de bronze de uma estátua em tamanho real.

O pesquisador considera cativantes não os objetos propriamente ditos, mas, sim, o que eles podem dizer sobre como as pessoas viviam e se moviam pelo mundo. “Naufrágios são como chamadas telefônicas, carregadas de informações”, diz. “Com a tecnologia certa, os especialistas e percepções necessárias, podemos espionar essas antigas chamadas telefônicas e reconstruir as suas conversas”.

Pesquisadores examinam as cabeças de barris de madeira que foram encontrados no local do naufrágio de Gribshunden — Foto: Divulgação/Brett Seymour
Pesquisadores examinam as cabeças de barris de madeira que foram encontrados no local do naufrágio de Gribshunden — Foto: Divulgação/Brett Seymour

É isso que torna o Gribshunden tão valioso. O “castelo flutuante” afundou provavelmente devido a uma explosão de pólvora, ancorado, enquanto o Rei Hans estava em terra, levando consigo todos os símbolos de poder que o monarca e seus nobres trouxeram com eles.

Mergulhadores locais encontraram originalmente o naufrágio no início dos anos 1970, mas ele não chamou a atenção dos arqueólogos até 2001. A escavação foi bastante limitada até Foley se juntar à equipe em 2018.

O Gribshunden representa a primeira geração de navios de guerra de transporte de artilharia, semelhante àqueles que Vasco da Gama usou para chegar à Índia ou Cristóvão Colombo à América. O novo design tornou possíveis viagens de longa distância, permitindo que os europeus explorassem grandes porções do globo.

Diferentemente de outros exemplares do período, o Gribshunden segue relativamente bem preservado. A baixa salinidade do Mar Báltico impediu que vermes carnívoros devorassem o casco e qualquer outra madeira a bordo.

Achados a bordo do naufrágio

Foley e seus colegas escavaram apenas entre 1% e 2% do local. Mesmo assim, ele acredita que o que trouxeram à superfície já manterá os estudiosos ocupados por anos. Seus achados incluem bestas de madeira intactas e armas de fogo antigas — uma coleção que marca o início da transição para armas de pólvora.

Brendan Foley supervisiona enquanto outro arqueólogo entra na água no local do naufrágio de Gribshunden em 2022. “Encontramos coisas neste local que não têm precedentes arqueológicos”, disse ele — Foto: Divulgação/Brett Seymour
Brendan Foley supervisiona enquanto outro arqueólogo entra na água no local do naufrágio de Gribshunden em 2022. “Encontramos coisas neste local que não têm precedentes arqueológicos”, disse ele — Foto: Divulgação/Brett Seymour

Os arqueólogos também recuperaram uma bolsa de moedas de prata. Estudos sobre esse dinheiro possibilitaram determinar sua idade e local de emissão, o que, consequentemente, apontou para uma mudança das economias de escambo nessa época.

Os especialistas encontraram ainda uma variedade de especiarias exóticas do rei, incluindo cravos, pimenta-do-reino, pedaços de gengibre e pedaços de açafrão do tamanho de um punho. Essas iguarias teriam sido importadas de lugares tão distantes quanto o território da Indonésia moderna.

Até mesmo a caneca que tentou escapar das mãos de Foley é única. A análise mostrou que ela foi feita de uma peça de madeira de amieiro pintada de vermelho, com o formato de uma coroa esculpida perto da base. O interior ainda tinha um leve cheiro de pinho, sugerindo que pode ter contido uma cerveja com sabor de pinho.

“Hans usou este navio como uma fortaleza militar, mas também como um centro administrativo, como um centro cultural, como uma base para suas políticas econômicas”, disse Foley. “Estamos encontrando evidências de tudo isso nos artefatos a bordo do navio”.

(Por Arthur Almeida)

Astrogildo Aécio Nunes

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