Descobertas 37 espécies de pássaros que brilham no escuro, do bico às penas

Descobertas 37 espécies de pássaros que brilham no escuro, do bico às penas
Natural da Oceania, ave-do-paraíso-imperador (Paradisaea guilielmi) é fluorescente — Foto: © Rene Martin

As aves-do-paraíso, nomes de pássaros da família Paradisaeidae, são exclusivas de regiões como o leste da Indonésia, Papua Nova Guiné e a parte oriental da Austrália. Famosas por suas cores vibrantes, essas aves agora revelam uma característica adicional que as torna ainda mais extraordinárias: a biofluorescência, ou a capacidade de brilhar no escuro.

Em um artigo publicado na última quarta-feira (12) na revista científica Royal Society Open Science, pesquisadores relataram a descoberta desse talento até então desconhecido, mostrando sua ligação ao ritual de acasalamento dessas aves.

A pesquisa foi feita por um grupo de cientistas do Museu Americano de História Natural e da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. Eles examinaram as 45 espécies conhecidas de aves-do-paraíso, que fazem parte do acervo do museu e foram coletadas por biólogos desde 1800. Dentre elas, 37 mostraram ser biofluorescentes.

As aves foram analisadas por meio de uma técnica fotográfica especial, que utilizou luzes ultravioleta e azul, além de filtros de emissão. Esse fenômeno luminoso não significa que os animais geram luz, mas sim que eles absorvem a luz, a transformam e a reemitem em uma cor diferente.

A biofluorescência já foi observada em diversas espécies, como tubarõeságuas-vivas, escorpiões e até ornitorrincos. Há dez anos atrás, ornitólogos do museu começaram a investigar a presença de biofluorescência em sua ampla coleção de animais, focando especialmente em um grupo de aves reconhecidas por seus elaborados rituais de acasalamento.

As primeiras famíalias de aves analisadas foram a dos “pássaros-jardineiros” (Ptilonorhynchidaee) e a dos carriça-de fada (Maluridae). Os pássaros-jardineiros constroem complexas estruturas conhecidas como “avenidas”. e até emitem cantos específicos durante seus rituais de acasalamento. Já os carriça-de fada apresentam uma plumagem reprodutiva exclusiva, com os machos exibindo cores vibrantes durante a época de reprodução. No entanto, os estudos mostraram que nenhum dos dois grupos de aves possuía biofluorescência.

Então, a equipe partiu para as aves-do-paraíso. Essas espécies possuem um ritual tão único que chegaram a ganhar uma descrição de Charles Darwin, em 1850. “Há a mais severa rivalidade entre os machos de muitas espécies para atrair. Os machos exibem sua plumagem deslumbrante e realizam estranhas palhaçadas diante das fêmeas”, Darwin declarou sobre as aves, “que, de pé como espectadoras, escolhem o parceiro mais atraente”.

As cores vibrantes dos machos têm como principal objetivo atrair a atenção das fêmeas. Para intensificar ainda mais o interesse das parceiras, várias aves-do-paraíso modificam sua aparência, posicionando suas franjas de maneira estratégica, enquanto realizam uma dança que destaca sua penagem. Além disso, complementam esse show com cantos poderosos e sons não vocais, que funcionam como “cantadas”.

Ao direcionar luz ultravioleta sobre as penas das aves, os pesquisadores identificaram a biofluorescência em regiões que são destacadas durante o acasalamento: a parte interna da boca, o bico, os pés e as penas na cabeça, pescoço e abdômen. O fenômeno também foi notado nas fêmeas, embora, por elas possuírem menos cores do que os machos, a biofluorescência fique restrita à plumagem no peito e na barriga.

Exemplos de oito espécies diferentes de ave-do-paraíso macho fotografadas sob luz branca (acima) e também mostrando regiões biofluorescentes (abaixo) — Foto: © Rene Martin, Emily Carr and John Sparks
Exemplos de oito espécies diferentes de ave-do-paraíso macho fotografadas sob luz branca (acima) e também mostrando regiões biofluorescentes (abaixo) — Foto: © Rene Martin, Emily Carr and John Sparks

“Essas aves vivem perto do equador, onde há abundância de luz solar brilhante o ano todo, e vivem em florestas onde a complexidade da luz é significativamente afetada por diferenças no dossel e onde os sinais biofluorescentes podem ser aprimorados”, disse Emily Carr, estudante de doutorado na Richard Gilder Graduate School do Museu, em comunicado.

Invisível para humanos

Embora não seja perceptvel a olho nu para os seres humanos, o brilho gerado pela biofluorescência pode ser visualizado pelas aves. Pesquisas anteriores indicam que os olhos dos pássaros contêm pigmentos que correspondem aos picos de fluorescência identificados pelos pesquisadores, o que realça ainda mais as cores vibrantes das penas das aves-do-paraíso. Assim, é possível concluir que essa característica provavelmente desempenha um papel significativo no processo de cortejo e na organização hierárquica entre elas.

“Os rituais de acasalamento e exibições únicas de aves-do-paraíso fascinaram cientistas e estimularam uma miríade de estudos focados na evolução de características e seleção sexual”, disse a autora principal do estudo, Rene Martin, professora assistente na Universidade de Nebraska. “Parece apropriado que essas aves chamativas estejam provavelmente sinalizando umas às outras de maneiras adicionais e chamativas.”

(Por Redação Galileu)

Astrogildo Aécio Nunes

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