Dante e o Parque Mãe Bonifácia
WILSON CARLOS FUÁH
A vida nos impõe o corre-corre do trânsito louco, a competitividade do nosso dia-a-dia, e em função disso, as pessoas são contaminadas pelo desespero e agonia, que fatalmente os leva a serem acometidas pela doença do século: vida depressiva que os deixa transtornadas e agindo de forma irracional.
Mas em Cuiabá você encontra um lugar muito especial para sua cura existencial: o Parque Mãe Bonifácia, que além de nos oferecer o ar, é também, o maior laboratório da natureza intocável do serrado cuiabano, colocado à disposição daqueles que desejam ter um contato direto com a natureza; é um espaço que está ali para nos servir e nos dar algumas lições.
O Parque está localizado no Centro da América do Sul, com sua área preservada de 77,16 há, com trilhas que em seu contorno atingem 3.337 metros para se fazer uma boa caminhada. É uma pequena floresta composta de animais da fauna regional, árvores tipicamente do cerrado, águas de nascente (porém inexplicavelmente poluídas, e que as “autoridades competentes” nada fazem para construir um sistema de tratamento de esgoto, evitando que essas águas poluídas e com odor insuportável passe dentro do Parque).
O Parque Mãe Bonifácia nasceu de um sonho do Governador Dante Martins de Oliveira, que tratava aquele espaço como se fosse um lugar especial e único no planeta, fez as suas caminhadas matinais diariamente até seus últimos dias, e hoje sua presença espiritual está em todo o Parque. Dante de Oliveira como um visionário e com a sensibilidade pela preservação, deixou como presente para os cuiabanos aquele espaço mágico. E, antes que os especuladores e aventureiros pudessem destruir aquela área com construções e mais construções, Dante além de construir o Parque e transformá-lo em área de preservação ambiental, deixou para todos nós que amamos o Parque a responsabilidade de preservá-lo, pois aquele bioma do cerrado é um território sagrado, e que além da Lei Universal, ficará inscrita nos anais da história, a base legal que é regulamentada pelo Decreto Lei nº 1.470 de 09/06/2000.
Dante de Oliveira, após o fim de seu governo me deu a honra de fazer várias caminhadas ao seu lado, nesse período já sozinho e sem os bajuladores, pude sentir a grandeza política daquele que será sempre o ícone da política deste estado, está no patamar dos ilustres mato-grossenses como: Marechal Eurico Gaspar Dutra (Ex-Presidente da República); Marechal Candido Mariano da Silva Rondon (O Patrono das Comunicações) e Dom Aquino Correa (reconhecido nacionalmente pelas suas obras). E durante as nossas caminhadas em 2003, senti nele a tristeza das acusações politiqueiras que imputaram a ele, constantemente se emocionava e concertava a garganta e dizia que todos saberiam a verdade um dia. Eu não via nele nenhum sentimento de vingança, porque para ele em política não existe inimigos, mas sim adversários, dizia que iria lutar para defender o seu nome e a sua honra maculada injustamente, mas infelizmente morreu prematuramente e faz muita falta, pois engrandecia o quadro político decente deste Estado de Mato Grosso.
A sua imagem carismática era marcada e destacada só com a sua presença, mas Deus ainda lhe deu aquele vozeirão inconfundível e que até hoje ecoa nas lembranças da política deste estado e os seus discursos emocionados contagiavam até os insensíveis à política; era dele a afirmativa ao dizer que não fazia coligações com qualquer um, “pois algum dia se você me ver abraçado com essas figuras, aparta que é briga” ou dizia: “óleo não se mistura com água”; aprendi muito sobre política caminhando ao seu lado, e via o quanto ele amava o Parque. Ele fincou naquele espaço o marco do espetáculo da natureza, pois fazia parte até no seu nome uma espécie da natureza: “Oliveira”.
Dante de Oliveira em respeito aos negros que ajudaram a construir este país e em homenagem uma líder e bondosa negra, que residia naquela localidade e por ser dotada de fé espiritual, essa escrava era requisitada pela sua prática de curandeirismo, e que pela sua liderança ajudava os escravos fugitivos de área quilombola. Essa velha escrava era conhecida como Mãe Bonifácia, por isso Dante brilhantemente fez essa homenagem edificando uma linda estátua a ela, por isso o parque tem a denominação de Parque Mãe Bonifácia.
Sonhou, projetou e construiu sem provocar devastação ou destruição, preservou a flora e suas diversas espécies como: Gonçaleiro; Cumbaru; Aroeira; Farinheira; Jatobá; Sete Cascas; Lixeira; Angico; Barbatimão Branco; Ingá; Algodãozinho; Marmeleiro; Sucupira Preta e Olho de Boi. Vê-se por lá, vivendo como donos do pedaço; bichos como: Cotia; Preá; Capivara; Tatu-galinha; Paca; Mico Macaco. E a fauna como: Cobras; Lagartos e Jacarés, Rãs, Sapos 4 Olhos, Sapos “Gia” e as Pererecas. E para quebrar o silêncio da mata, podem-se ouvir em forma de alegria os sons dos pássaros como: Periquitos; Frangos-d’ Agua Azuis; Beija-flor de garganta verde; Coleirinhas; Curiós; Rolinhas; São Joãozinho Vermelhinho; Bem-te-vi; João de barro, Canários-da-terra e Azulões.
E Dante como cuiabano, fez uma homenagem a sua cidade, pois seguindo a trilha para o lado direito do Parque, está estampado no muro, retratos da Cuiabá antiga, quadro a quadro, vê-se um pouco da história e símbolos emblemático deste Estado de Mato Grosso. (infelizmente as pinturas dos retratos estampados nos muros, estão destruídas e sem preservação, lamentável mesmo!).
Temos ainda as flores que nos dão suavidade do cheiro e o bendito fruto; os morros que nos ensinam o valor do esforço para alcançar as alturas; não devemos esquecer que o Parque é uma área de preservação ambiental, é um espaço abençoado, pois nos concede a oportunidade individual de conectar com a Fonte Universal. O Parque Mãe Bonifácia está entre as minúsculas partes do planeta que ficará preservada para sempre, só depende de nós que usamos e amamos o Parque.
Ao caminhar devemos ser sempre como o vento, livre e solto e sem muita complicação. O ar é assim, na hora que é preciso, ele nos alimenta com bons oxigênios; sempre está à disposição para nos servir e fazer o bem, a grandeza da vida animal ensina a não perdermos a naturalidade da natureza, seguindo um ritmo próprio e coerente, sem evitar e nem impor regras já estabelecidas. Nosso eterno aprendizado não dispensa os mais sábios professores, porque às vezes a simplicidade da natureza nos dá as maiores lições.
Muitas pessoas não entendem que os ciclos estão dentro de nós também, mas geralmente somos consumidos pelos treinamentos de sempre competir e esquecemos que precisamos de referenciais externos, para nos organizarmos a complexidade dos detalhes que são perceptíveis a olho nu para compreendermos e talvez assimilarmos as verdades da vida interior que são alimentadas pela ação meditativa do coração.
O caminhar no Parque nos ensina que cada elemento da natureza ocupa seu lugar e exerce funções diversas e pertinentes de acordo com a sua própria natureza específica. Hoje é necessário reeducar as pessoas que frequentam o Parque, para exercitar e treinar seu amor pela preservação, porque a natureza foi criada para servir sem ferir, por isso não agrida o Parque, pois, a Mãe Natureza sempre está disposta para nos servir e nos dar lições.
O simples caminhar no Parque nos ensina que o importante é perceber a simplicidade da natureza, afastando-nos do artificialismo das máquinas nas academias, do stress das ruas, pois através das caminhadas possamos fazer a ligação espontânea em forma de ponte de paz entre o céu e a terra.
Agradeço a Deus ao acordar pela manhã com saúde, tomar o meu guaraná ralado, sair para desfrutar a cada dia o prazer de caminhar no Parque Mãe Bonifácia que me lembrar sempre que devo preservar o Parque, para o bem da coletividade e poder me sentir feliz em ouvir o som da mata, explosão de beleza que se renova todas as manhãs. Andar, ouvir e sentir o espetáculo da vida que me faz ficar conectado com a mãe natureza e me certificar que sou parte dela. No amor pela natureza está a maior cultura, que é a de plantar, pois sacia, cura, dá frutos saborosos e nos dá raízes eternas de felicidade.
Ao andar pela mata sentimos a presença de espiritual como se estivéssemos em um território sagrado. O amor nos faz entender a essência da criação da natureza e com todo esse complexo mundinho do parque, passamos a respeitar as soluções para a natureza evolutiva dos seres. Os animais sabem o que devem fazer e agem mais ou menos de acordo com os hábitos da espécie. Já os seres humanos têm por base o seu saber em estudos, que muitas vezes não são aplicados.
O ser humano quer descobrir o que fazer num mundo competitivo e coletor, destrutivo da natureza e dos seres, estando carente de retidão e de verdade num contexto global, evidentemente, mas em especial está carente de autoconhecimento para ser feliz sem artifícios, mesmo assim as pessoas vivem apenas das ações estratégica empregadas para a sua própria sobrevivência, esquecendo-se do bem comum.
O Parque Mãe Bonifácia sempre estará a disposição para nos servir e nos dar lições. Portanto, zelemos por aquele espaço e façamos o bom uso, e que as nossas caminhadas façam com que as nossas vidas sejam agradáveis e cheias de saúde.
(*) WILSON CARLOS FUÁH é Especialista em Recursos Humanos e pesquisador das Relações Sociais e Políticas, Graduado em Ciências Econômicas.
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