Carbono que forma nosso corpo saiu da galáxia e retornou, segundo este estudo
É graças às estrelas que o Universo existe da maneira como o conhecemos. Quase todos os elementos necessários à formação de corpos celestes ou mesmo para o surgimento da vida, tais como carbono, oxigênio e ferro, só existem porque foram forjados no interior de estrelas e, posteriormente, lançados no cosmos com a sua morte.
Em um ato final de reciclagem galáctica, esses átomos disponíveis no espaço são incorporados pelos planetas para, assim, gerar o seu núcleo e sua atmosfera, por exemplo. No caso da Terra, também os seus habitantes, os micróbios, as plantas e os animais.
Por mais que os cientistas já tivessem noção deste fenômeno, pouco ainda se sabia sobre como esse processo ocorre na prática. Mas uma nova pesquisa, desenvolvida por cientistas dos EUA e do Canadá, argumenta que o carbono e os outros átomos formados por estrelas não ficam à deriva no espaço até serem recrutados para novos usos.
Ao invés disso, em galáxias ativas como a nossa, onde novas estrelas estão sempre surgindo, esses átomos se mantêm em movimento, em uma tortuosa jornada pelas galáxias. Essa corrente foi nomeada pelos especialistas como circumgalactic medium (“meio circumgaláctico”, na tradução para o português).
Neste estudo, os pesquisadores utilizaram o instrumento Cosmic Origins, espectógrafo infravermelho do Telescópio Espacial Hubble, que permitiu identificar a presença dos elementos em meio à luz de nove quasares distantes. Os resultados encontrados foram descritos em um artigo publicado em 27 de dezembro na revista científica Astrophysical Journal Letters.
Meio circumgaláctico
“O meio circumgaláctico é como uma estação de trem gigante: ele está constantemente empurrando material para fora e puxando-o de volta para dentro”, explica Samantha Garza, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto, em comunicado. “Os elementos pesados são empurrados para fora de sua galáxia hospedeira por meio de suas mortes explosivas em supernovas”.
Nesse vaivém, a gravidade e outras forças espaciais encaminham essas matérias-primas na direção de diferentes planetas, luas, asteroides, cometas e estrelas. Basicamente, isso significa que o meio circumgaláctico atua como um reservatório gigante e renovável de carbono e oxigênio.
“As implicações para a evolução das galáxias e para a natureza do reservatório de carbono disponível para as galáxias formarem novas estrelas são empolgantes”, afirma a coautora Jessica Werk. “O mesmo carbono em nossos corpos provavelmente passou uma quantidade significativa de tempo fora da galáxia”.
Ter isso em mente pode ajudar a compreender como esse processo de reciclagem tende a diminuir à medida que uma galáxia morre – um destino inevitável que, eventualmente, chegará a todas elas, inclusive, à Via Láctea. Pesquisas futuras pretendem quantificar a extensão total dos elementos que compõem o meio circumgaláctico para esclarecer não apenas quando galáxias como a nossa fazem a transição para desertos estelares, mas por quê.
(Por Arthur Almeida)