Busto é mais uma reverência de Várzea Grande à memória de seo Fiote

Busto é mais uma reverência de Várzea Grande à memória de seo Fiote
A prefeitura e o busto de seo Fiote em destaque

Um dos últimos atos em público do prefeito de Várzea Grande, Kalil Baracat (MDB), foi descerrar um busto de Júlio Domingos de Campos, o seo Fiote, ex-prefeito daquele município e patriarca do clã Campos. Kalil e os irmãos Jayme e Júlio Campos, filhos de seo Fiote, fizeram o descerramento.

O descerramento

Seguindo a trajetória do pai, Júlio e Jayme Campos foram prefeitos de Várzea Grande; Jayme Campos é senador e Júlio Campos deputado estadual.

O ato aconteceu na manhã desta sexta-feira, 27, e teve a participação de filhos, netos e sobrinhos do homenageado, além de autoridades locais e estaduais, a exemplo do ex-governador Moisés Feltrin, e de amigos da família Campos.

Falando em nome da família, Júlio Campos agradeceu a Kalil e a desembargadora e vice-presidente do Tribunal de Justiça, Maria Erotides Kneip, que doou o busto, “reconhecendo o trabalho da família Campos em prol de Várzea Grande”, salientou o deputado. A magistrada foi juíza de Direito na Comarca de Várzea Grande.

Júlio e Jayme Campos ao lado do busto do pai

Júlio Campos lembrou a trajetória política do pai e destacou que vários integrantes de sua família foram prefeitos do município, e que dentre eles, sua cunhada Lucimar Sacre de Campos, casada com Jayme Campos, e que antecedeu Kalil na prefeitura.

Familiares e amigos no ato

Conversando com jornalistas após o ato, Kalil destacou que sentia-se feliz com a homenagem, pois seo Fiote, segundo ele, “foi um dos vultos mais destacados, respeitados e admirados de Mato Grosso”.

O homenageado

Político até na naturalidade. Quando alguém lhe perguntava: – Onde nasceu? A resposta era clássica: “Na fazenda Caninana, no limite de Várzea Grande e Nossa Senhora doLivramento“. Desse modo, ele, várzea-grandense, não descontentava nenhum dos dois municípios, que o tinham no rol de seus filhos. Assim era seo Fiote, que veio ao mundo em 9 de janeiro de 1917, com duplicidade de naturalidade e que esteve entre nós até 20 de setembro de 2007, quando fechou os olhos para sempre, numa unidade de terapia intensiva do Hospital Jardim Cuiabá, em Cuiabá, onde permaneceu internado por dois meses, por uma série de complicações de seu quadro de saúde; seu corpo foi velado na Câmara Municipal de Várzea Grande e sepultado no Cemitério São Francisco de Assis, no jazigo da família Campos, naquela cidade.

A fazenda Caninana tinha uma porção em Várzea Grande e outra em Livramento. Para não desagradar os livramentenses seo Fiote não entrava em detalhes sobre a localização da propriedade.

Não é fácil sintetizar o perfil de seo Fiote, a começar por seus laços familiares em Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento, suas duas cidades: por todas as linhagens se encontram parentes diretos e afins do homem que foi o patriarca dos Campos – maior clã político de Mato Grosso. Seus pais, Porfíria Paula de Campos e Veríssimo de Oliveira Campos, eram várzea-grandenses.

Fiote era apelido de infância do menino que perdeu o pai, Veríssimo de Oliveira Campos, que morreu vítima de diverticulite quando o filho tinha apenas 1 ano. Fiote teve dois irmãos: Maria Agostinha e Gonçalo Domingos. Órfão, foi criado pela mãe, dona Porfíria Paula de Campos.

Em Várzea Grande, até bem pouco tempo, mas antes de sua explosão populacional, era assim: se é Campos, é parente, se é Botelho, se é Barros, se é Domingos, se é Leite, se é Monteiro, não importa… Na veia de todos corre o sangue miscigenado dos Campos. Mas, não é somente isso. Se você se depara com uma escola que leva o nome de uma professora, tenha certeza de que ele ou foi seu aluno ou os dois são consanguíneos. Mas, afinal, para quem não é várzea-grandense e não sabe sobre a tradição daquele município, quem foi seo Fiote? Foi o hábil político Júlio Domingos de Campos, do PSD de Juscelino Kubitschek e Filinto Müller, que lutou pela emancipação de Várzea Grande, então distrito de Cuiabá; que foi o vereador mais votado em sua primeira legislatura (eleita em 1949); que por duas vezes foi seu prefeito. No regime militar de 1964, com o fim do pluripartidarismo, seo Fiote filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena) e ao PDS, e mais tarde ao PFL e ao Democratas. Em 1951 seo Fiote elegeu-se prefeito de Várzea Grande pela primeira vez. Em 1957 conquistou o segundo mandato para aquele cargo. Depois, em 1964, mudou-se para Cuiabá e não mais disputou eleição, muito embora participasse ativamente da vida política daquela cidade e de Mato Grosso.

Ao assumir o governo, Pedro Pedrossian (1966/71) o convidou para ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado, mas seo Fiote não aceitou. Filinto Müller disputou o Senado pela última vez em 1970 e o queria na suplência, mas ele disse não. Estava decidido a não mais participar diretamente da vida pública. Comerciante, seo Fiote fundou em Várzea Grande, no ano de 1941, A Futurista, um grande atacarejo. Anos depois a transferiu para o centro de Cuiabá, de onde distribuía produtos para vários municípios. Paralelamente a isso, foi pecuarista.

Casal Amália e Fiote Campos

Júlio Domingos de Campos, o seu Fiote, casou-se em 28 de novembro de 1944, com dona Amália Curvo de Campos. O casal teve 10 filhos: Doralice, Júlio José, Circe Bernadete, Juracy Maria, Jayme Veríssimo, João Francisco, Ivete Maria, Benedito Paulo, Marilene Auxiliadora e Márcia Auxiliadora.

Dos filhos, quatro herdaram a veia política do pai: O deputado estadual e vice-presidente eleito da Assembleia, Júlio José de Campos, engenheiro agrônomo, foi prefeito de Várzea Grande, três vezes deputado federal, governador, senador e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Jayme Veríssimo de Campos, empresário, foi prefeito de Várzea Grande em três mandatos, governador e cumpre o segundo mandato alternado de senador. A mulher de Jayme, a empresária Lucimar Sacre de Campos, foi prefeita de Várzea Grande em dois mandatos consecutivos. Benedito Paulo de Campos, arquiteto e urbanista, foi secretário de Estado em parte do governo de Blairo Maggi e prefeito de Jangada. Márcia Campos, bioquímica, foi vereadora por Cuiabá.

E a veia política? Dizem que alguns nascem com uma veia política. Foi o caso de seo Fiote, mas ela hibernou até na juventude, no final dos anos 1930, quando foi garimpar diamante em Poxoréu com o tio Luiz Coelho de Campos, o Coronel Luizinho, que foi Intendente (cargo de nomeação correspondente ao de prefeito) daquele município e mais tarde deputado estadual. O sobrinho gostou da habilidade do Coronel Luizinho e se deixou seduzir pela política.

Seo Fiote realizou importantes obras em Várzea Grande e alguns de seus herdeiros deram continuidade ao seu trabalho político.

A memória de Júlio Domingos de Campos é reverenciada em Várzea Grande, Cuiabá e Jangada.

POSTERIDADE – O busto de seo Fiote defronte o hall de entrada da prefeitura é a mais recente homenagem prestada à sua memória, em Várzea Grande, onde o maior ginásio poliesportivo chama-se Fiotão; um residencial, uma Escola Municipal de Educação Básica e uma avenida rendem homenagem à sua memória; a sede da prefeitura recebeu o nome de Palácio Municipal Júlio Domingos de Campos, logo após seu falecimento, num gesto de reverência do então prefeito Murilo Domingos. Em Cuiabá, a avenida que dá acesso ao Palácio Paiaguás tem seu nome e o Parque das Águas Júlio Domingos de Campos é um dos principais pontos de lazer da capital. Em Jangada,onde foi pecuarista durante décadas, a sede da prefeitura recebeu seu nome.

Fotos:

1 – Eduardo Gomes com arte de Marco Antônio Raimundo

2, 3 e 4 – Edson Rodrigues

5 – Álbum de Família

Eduardo Gomes – @andradeeduardogomes – eduardogomes.ega@gmail.com

Astrogildo Aécio Nunes

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