Segundo ovo no mundo de papagaio antes considerado extinto é achado na Austrália

Segundo ovo no mundo de papagaio antes considerado extinto é achado na Austrália
Lucinda Gibson, guarda florestal de Ngururrpa, segurando gentilmente o ovo não fertilizado do periquito-noturno — Foto: Divulgação/Ngururrpa Rangers

A descoberta do segundo ovo já registrado no mundo de periquito-noturno (Pezoporus occidentalis), no extremo norte da Austrália, causou comoção nos últimos meses entre os círculos internacionais de vida selvagem.

Apesar desse ovo não estar fertilizado, a espécie é muito rara: foi considerada extinta por mais de um século, antes de ser redescoberta em 2013, quando um fotógrafo capturou um vídeo de um pássaro vivo em Queensland.

Pouco tempo depois, populações inteiras foram encontradas em uma expedição no Grande Deserto Arenoso da Austrália Ocidental. Pelo menos 50 indivíduos foram contabilizados. No entanto, ainda se sabe muito pouco sobre esse papagaio — e a identificação do ovo não fertilizado em setembro de 2024 gerou grande expectativa.

“Mesmo quando eram mais comuns, eles estavam em áreas onde as pessoas não saíam para coletar muito”, explica Christy Davies, coordenadora da Área Protegida Indígena Ngururrpa (onde estava o ovo), à rede de televisão ABC. “Não há muitos exemplares deles disponíveis em coleções de museus em lugar nenhum”.

Infertilidade do ovo

Notado o ninho do periquito-noturno em uma árvore da reserva natural, a equipe responsável precisou ter certeza de que o ovo não estava fertilizado antes de interferir, pois isso poderia levar à rejeição do filhote pelos pais. Para tanto, foram instaladas câmeras capazes de monitorar a atividade no local.

Com a orientação do especialista Nick Leseberg, concluiu-se que o ninho já havia sido abandonado. Em seguida, empregou-se uma técnica chamada de observação oral para determinar se o ovo era fértil ou não.

Um periquito-noturno descoberto em uma câmera de monitoramento noturno instalada pelos Ngururrpa Rangers — Foto: Divulgação/Ngururrpa Rangers
Um periquito-noturno descoberto em uma câmera de monitoramento noturno instalada pelos Ngururrpa Rangers — Foto: Divulgação/Ngururrpa Rangers

“Para confirmar a fertilidade, basta segurar o material contra a luz e olhar através dele. Se for fértil, haverá um pequeno pássaro bebê crescendo dentro, e você pode ver formas escuras”, indica Davies. “Mas, neste caso, podíamos ver que o interior era bem uniforme, o que confirmou que o ovo não era fértil”.

Mesmo sem um feto, as esperanças de novos estudos não foram descartadas. O material ainda pode ajudar os cientistas a entender mais sobre as características fisiológicas, ecológicas e comportamentais deste pássaro – em especial, no que diz respeito ao período de acasalamento.

Extinção e preservação

Leseberg, que investiga esta espécie há muitos anos, afirma à ABC ter certeza de que a colonização foi a principal causa de sua extinção: “O declínio foi notado por volta do final do século 19 e, no início do século 20, ele já havia desaparecido”.

Por cerca de um século, houve várias alegações de avistamentos. Mas uma observação só foi oficialmente registrada por volta de 1990, quando um periquito-noturno morto foi achado na beira de uma estrada no oeste de Queensland.

A área de Ngururpa é considerada hoje um dos únicos habitats restantes da espécie, com cerca de 95% dessa população de papagaio. Diante disso, funcionários assumiram há cerca de cinco anos a responsabilidade de acompanhar os periquitos-noturnos locais.

De acordo com Leseberg, entender os padrões de reprodução poderia proteger a ave criticamente ameaçada. Por exemplo, conhecendo-se as ameaças e a época de acasalamento, é possível montar modelos preditivos para proteger os habitats e aumentar o número da espécie.

(Por Arthur Almeida)

Astrogildo Aécio Nunes

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