Com cerca de 13 mil anos, mapa 3D mais antigo do mundo é achado na França
No abrigo rochoso Ségognole 3, situado na Bacia de Paris, na França, pesquisadores descobriram o que pode ser o mapa tridimensional mais antigo do planeta. A descoberta, registrada em artigo no periódico Oxford Journal of Archaeology, foi anunciada em comunicado na segunda-feira (13).
Anteriormente, o mapa 3D mais antigo conhecido era uma grande laje de pedra esculpida durante a Idade do Bronze, cerca de 3 mil anos atrás. Descoberta em 1900, a placa permaneceu perdida até ser reencontrada em 2014 no porão de um castelo na França. Ela representava a rede fluvial e os montes de terra de uma região no oeste da Bretanha, possivelmente utilizado para navegação.
Estudos em Ségognole 3 agora sugerem que, há aproximadamente 13 mil anos, povos do Paleolítico moldaram e adaptaram parte do piso de arenito do abrigo para representar os fluxos naturais de água e as características da área.
“O que descrevemos não é um mapa como o entendemos hoje — com distâncias, direções e tempos de viagem” explica Anthony Milnes, da Universidade de Adelaide, na Austrália, em comunicado. “Mas sim, uma miniatura tridimensional representando o funcionamento de uma paisagem, com o escoamento de terras altas para riachos e rios.”
A descoberta foi feita a partir da revisita aos fatores geomorfológicas do arenito do abrigo. Os pesquisadores perceberam que havia certas nuances que não poderiam ter se formado de forma natural, sugerindo a atuação dos antigos habitantes do continente. Já se sabia que o piso havia sido alterado — em 2017, uma pesquisa revelou que algumas partes do arenito foram modeladas para imitar a forma feminina, enquanto outras apresentavam rasgos criados para permitir a infiltração de água.
Qual era a função do mapa?
As novas descobertas demonstram que, além do caráter estético das alterações, os primeiros habitantes da Europa também possuíam a capacidade cognitiva de mapear e compreender o ambiente ao seu redor.
A teoria é que o mapa tenha desempenhado um papel crucial no planejamento de estratégias de caça ou até mesmo na instrução dos mais jovens sobre os principais recursos naturais do vale do rio École, região onde o abrigo se encontra.
No entanto, por estar próxima a uma representação tridimensional de uma mulher, as gravações podem sugerir outra utilização e significado. O mapa pode simbolizar um conhecimento associado à origem da vida e aos ciclos naturais. Por essa razão, é possível que tenha sido utilizado em cerimônias ritualísticas envolvendo água.
Outro fator surpreendente é a interação entre a moldagem da pedra e a água da caverna. Os pesquisadores observaram que, quando chove, a água escorre e ocupa os canais desenhados, dando vida ao mapa 3D.
“Nossa pesquisa mostrou que os humanos do Paleolítico esculpiram o arenito para promover caminhos de fluxo específicos para infiltração e direcionamento da água da chuva, algo que nunca havia sido reconhecido pelos arqueólogos”, conta Médard Thiry, do Centro de Geociências Mines Paris.
Os pesquisadores reiteram a importância da colaboração entre diferentes áreas, como a arqueologia, geologia e geomorfologia, na descoberta de novas informações sobre a Idade da Pedra. “Reavaliar estudos de campo e conduzir visitas frequentes ao local são importantes. Está claro em nosso projeto em andamento que percepções e interpretações não aparecem imediatamente, mas emergem por meio de novas observações e discussões interdisciplinares”, sugere Thiry.
(Por Redação Galileu)