A importância das chuvas prolongadas no Bioma Cerrado e seus reflexos
YALE SABO MENDES
As chuvas prolongadas desempenham um papel crucial para a manutenção e o equilíbrio ecológico do Bioma Cerrado, que é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do Brasil e ocupa uma vasta área central do país. Embora o Cerrado seja um bioma predominantemente sazonal e adaptado a períodos de seca, as chuvas prolongadas têm impactos significativos em vários aspectos do ecossistema.
O Bioma Cerrado, com sua vegetação esparsa e seu clima marcado por períodos de seca e chuvas intensas, apresenta uma dinâmica ecológica única e adaptada a essas condições extremas. Contudo, as chuvas prolongadas, que ocorrem tipicamente durante a estação chuvosa, desempenham um papel fundamental na manutenção do equilíbrio desse ecossistema tão peculiar.
Quando as chuvas caem de forma prolongada e contínua, elas não apenas reabastecem os cursos d’água superficiais, mas também promovem a recarga dos aquíferos subterrâneos, como o vasto Aquífero Guarani, que se estende por grande parte do Cerrado. Esse processo de infiltração de água no solo é crucial, não só para o bioma, mas também para as populações humanas que dependem dessas águas para abastecimento, irrigação e até para a geração de energia hidrelétrica. Sem a infiltração eficiente da água, os lençóis freáticos podem ser comprometidos, afetando todo o ciclo hídrico da região.
Além disso, as chuvas mais intensas e prolongadas impulsionam o crescimento da vegetação, que, adaptada a ciclos de seca, precisa dessa água para florescer e gerar sementes. O solo do Cerrado, por ser naturalmente ácido e com baixa fertilidade, se beneficia do aporte de nutrientes trazidos pela água das chuvas, que dissolvem elementos essenciais para a vida vegetal. Esse crescimento das plantas não apenas sustenta a fauna local, mas também contribui para a regeneração de áreas degradadas, ajudando na recuperação da vegetação e na conservação de espécies que, sem essa intervenção hídrica, poderiam desaparecer.
É durante esse período que o Cerrado, tradicionalmente considerado um bioma resistente à seca, revela sua face mais exuberante. A estação das chuvas cria um ambiente propício para a reprodução de várias espécies de animais, especialmente os anfíbios e insetos, que precisam da umidade para completar seus ciclos de vida. Isso, por sua vez, reforça a rica biodiversidade da região, com inúmeras espécies de flora e fauna que só podem sobreviver nesse ecossistema por meio dessa alternância entre seca e chuva.
A importância das chuvas prolongadas também se reflete no papel que o Cerrado exerce no equilíbrio climático global. Durante os períodos de chuvas, as plantas realizam um intenso processo de fotossíntese, capturando dióxido de carbono da atmosfera e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Esse “pulmão verde” contribui, mesmo que de forma indireta, para o equilíbrio do clima mundial, agindo como um reservatório de carbono.
Entretanto, o impacto das chuvas prolongadas não é inteiramente positivo. Embora elas possam ser benéficas para a vegetação e para o abastecimento hídrico, chuvas excessivas podem causar alagamentos e danos à agricultura local, especialmente nas áreas onde a drenagem do solo não é eficiente. Além disso, mesmo com a vegetação mais verde, os incêndios, que são uma característica do bioma, ainda podem ocorrer, embora com menor frequência durante os períodos chuvosos. A umidade do solo e da vegetação, no entanto, ajudam a reduzir a propagação do fogo, limitando os danos.
O Cerrado, portanto, é um bioma de contrastes, adaptado tanto à escassez quanto à abundância de água. As chuvas prolongadas, longe de serem uma simples conveniência, são uma necessidade para a renovação do ecossistema, para o crescimento da vegetação, para a regeneração do solo e para a manutenção da vida selvagem. São um elo invisível entre a terra, a água e o ar, responsáveis por um ciclo que, se respeitado e mantido, garante a continuidade de um dos biomas mais importantes e ricos do planeta.
(*) YALE SABO MENDES é Juiz de Direito e Agrônomo, Pós Graduado em várias áreas do Direito, e Mestrando em Ciência Política, nascido e criado na região médio norte (República Diamantinense) do nosso querido Estado de Mato Grosso.
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