Antigos habitantes da América comiam mamutes, revela ossada de 13 mil anos

Antigos habitantes da América comiam mamutes, revela ossada de 13 mil anos
Segundo o novo estudo, até 40% da dieta do povo Clóvis era baseada em mamutes — Foto: Wikimedia Commons

Há anos, os arqueólogos debatem sobre como as primeiras populações do norte da América viviam – em especial, eles questionam os hábitos alimentares desses indivíduos. Até então, para responder essa dúvida, as hipóteses eram baseadas em evidências indiretas, como na análise de instrumentos de caça, por exemplo. Contudo, um novo estudo sugere que tal resposta pode estar escondida nos ossos uma criança que viveu 13 mil anos atrás.

Analisando os compostos químicos presentes nos fósseis de Anzick-1, um bebê que morreu com aproximadamente 18 meses, concluiu-se que o povo Clóvis, um dos primeiros grupos a habitar as Américas, tornou-se especialista em caçar grandes animais, como mamutes, em vez de procurar animais e plantas menores. Essas descobertas foram descritas em um artigo publicado na revista Science Advances na quarta-feira (4).

“O foco nos mamutes ajuda a explicar como os Clóvis conseguiram se espalhar pela América do Norte e Sul em apenas algumas centenas de anos”, afirma James Chatters, um dos autores do projeto, em comunicado. Caçar esses mamíferos fornecia um modo de vida flexível, que os permitia migrar facilmente para novas áreas.

Dieta Clovis

Os pesquisadores conseguiram modelar a dieta do povo Clovis investigando os dados isotópicos dos restos mortais de Anzick-1, publicados por outros pesquisadores em estudos anteriores. Uma vez que a criança provavelmente ainda era amamentada aos 18 meses de idade, compreendeu-se que, na realidade, o que se estava analisando era a dieta de sua mãe, cujos compostos foram transmitidos a ele por meio do leite.

“Dado que os isótopos fornecem uma impressão digital química da dieta do consumidor, eles podiam ser comparados com aqueles de itens alimentares potenciais para estimar a contribuição proporcional de diferentes itens alimentares” explica Mat Wooller, coautor do estudo.

Dito e feito: a equipe comparou a impressão digital isotópica da mãe com aquelas de uma ampla variedade de fontes alimentares do mesmo período e região.

Mapa mostra o noroeste do que é hoje a América do Norte há cerca de 12.800 anos. Os triângulos indicam os principais sítios de Clovis e os círculos indicam os locais usados ​​para amostras de tecidos animais no novo estudo — Foto: Chatters et al.
Mapa mostra o noroeste do que é hoje a América do Norte há cerca de 12.800 anos. Os triângulos indicam os principais sítios de Clovis e os círculos indicam os locais usados ​​para amostras de tecidos animais no novo estudo — Foto: Chatters et al.

Foi assim que eles descobriram que cerca de 35% a 40% da sua dieta vinha de mamutes, com outros animais grandes como alces e bisões compondo o resto. Pequenos mamíferos, por vezes considerados uma importante fonte de alimento, desempenharam um papel muito menor em sua dieta; apenas 4%.

Como destaca o site Science News, essas porcentagens não são um instantâneo de uma refeição, mas refletem pelo menos um ano da dieta da mulher, pois os isótopos levam tempo para se acumular nos tecidos. E como o povo Clóvis no oeste da América do Norte compartilhava comportamentos e equipamentos semelhantes, é provável que outros também tivessem dietas semelhantes.

Impacto dos Clóvis no ecossistema

De acordo com os investigadores, essas descobertas também sugerem que os primeiros humanos podem ter contribuído para a extinção de grandes animais da era glacial. Isso, especialmente impulsionado pelas mudanças ambientais, as quais reduziram seus habitats.

“Se o clima está mudando de uma forma que reduz o habitat adequado para algumas dessas megafaunas, então isso as torna potencialmente mais suscetíveis à predação humana”, afirma Ben Potter, colaborador do projeto. Chatters complementa: “tínhamos a combinação de uma cultura de caça altamente sofisticada e populações ingênuas de megafauna sob estresse ambiental”.

(Por Arthur Almeida)

Astrogildo Aécio Nunes

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