Gato traz rato morto para casa e ajuda cientista na descoberta de vírus

Gato traz rato morto para casa e ajuda cientista na descoberta de vírus
Pepper, mostrado relaxando no colo de seu tutor John Lednicky, contribuiu para um trabalho de campo que contribuiu para a descoberta do vírus jeilong 1 de roedores de Gainesville — Foto: John Lednicky

Graças ao trabalho de campo de ninguém menos que um gato, cientistas dos Estados Unidos conseguiram investigar pela primeira vez um jeilongvirus em detalhes. Este microrganismo nunca havia sido registrado no país e a sua descoberta abriu margem para discussões sobre os riscos da transmissão entre espécies (também chamada de “transbordamento”).

Tudo começou em um dia quente de maio em Gainesville, na Flórida. Pepper, um gato doméstico de pelo curto preto, voltou para casa trazendo consigo uma “surpresa” para o dono: um rato morto, que deixou nos pés de seu tutor.

Ao invés de se assustar ou se zangar com Pepper – como boa parte das pessoas faria -, o dono, o pesquisador John Lednicky, viu naquilo uma oportunidade de estudo. Professor da Universidade da Flórida, ele levou o rato para ser testado em laboratório por sua equipe. Inicialmente, o objetivo era verificar se o roedor portava o vírus da varíola do cervo-mula.

Ensaio de placa GRJV1 em células contaminadas — Foto: DeRuyter et al.
Ensaio de placa GRJV1 em células contaminadas — Foto: DeRuyter et al.

Contudo, o animal não carregava o vírus da varíola. Em vez disso, abrigava outro microrganismo curioso: um jeilongvirus. Encontrado na África, Ásia, Europa e América do Sul, esse vírus pertence à família de patógenos capaz de infectar répteis, pássaros, peixes e mamíferos — causando, ocasionalmente, doenças graves em humanos.

Além disso, os pesquisadores notaram que este não era um jeilongvirus qualquer. O vírus era muito diferente geneticamente comparado a outros. “Ele cresce igualmente bem em células de roedores, humanos e primatas não humanos (macacos), tornando-o um ótimo candidato para um evento de transbordamento”, explica Lednicky, em comunicado.

Um novo vírus

O achado foi nomeado pela equipe como vírus jeilong de roedor de Gainesville 1 (GRJV1). Um artigo que detalha a descoberta foi publicado em artigo na revista científica Pathogens em setembro.

“Não antecipamos um vírus desse tipo, e a descoberta reflete a percepção de que muitos vírus que não conhecemos circulam em animais que vivem próximos aos humanos”, afirma Emily DeRuyter, coautora da pesquisa.

Embora o jeilongvírus ainda não seja bem compreendido, sabe-se que, como um tipo de paramixovírus, esse vírus está associado a infecções no sistema respiratório. Mas, segundo os especialistas, o agente infeccioso não representa riscos imediatos aos humanos, dado que a maioria das pessoas tem pouco contato direto com os seus principais hospedeiros: ratos e camundongos selvagens.

Uma equipe da Faculdade de Saúde Pública e Profissões da Saúde da Universidade da Flórida descobriu o primeiro jeilongvirus nos Estados Unidos. Da esquerda para a direita, Andrew Williams, um aluno de doutorado; John Lednicky, Ph.D., um professor pesquisador; Emily DeRuyter, uma candidata a doutorado; e Tracey Moquin, a gerente do laboratório — Foto: Taylor Whittaker
Uma equipe da Faculdade de Saúde Pública e Profissões da Saúde da Universidade da Flórida descobriu o primeiro jeilongvirus nos Estados Unidos. Da esquerda para a direita, Andrew Williams, um aluno de doutorado; John Lednicky, Ph.D., um professor pesquisador; Emily DeRuyter, uma candidata a doutorado; e Tracey Moquin, a gerente do laboratório — Foto: Taylor Whittaker

Conforme o dono do gato que achou o rato portador do vírus, estudos em animais precisariam ser feitos para determinar se o jeilongvírus causa doenças em roedores e outros pequenos animais. “Eventualmente, precisamos determinar se ele [o vírus] afetou humanos em Gainesville e no resto da Flórida”, observa Lednicky.

Por fim, o tutor de Pepper garante que o gato não desenvolveu sintomas devido à exposição ao rato infectado. “Os gatos, em geral, evoluíram para comer roedores e não ficam doentes com os vírus transmitidos por eles, mas precisamos fazer testes para ver se o vírus afeta outros animais de estimação e humanos”, afirma o professor.

(Arthur Almeida)

Astrogildo Aécio Nunes

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